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Inovando com sabedoria num tempo que não para

Os educadores têm, no contexto atual, a difícil tarefa de reinventar possibilidades educativas, que assegurem aos educandos a inserção responsável na sociedade, com todos os direitos e deveres advindos da sua condição de cidadãos (ãs).

Por Iolene Lima

Guardo memórias de um tempo, nem tão longe assim, em que ouvia um toca-discos na nossa sala simples de uma edícula, o famoso 3 em 1. Ficava sentada à frente da estante, mexendo nos botões tentando equilibrar agudos e graves. Hoje, diante deste cenário tão incerto, percebo que minha vida estava razoavelmente equilibrada, entre graves e agudos, num tempo que não passava tão rápido, que era mais analógico e onde a informação transitava com mais veracidade, apesar da lentidão.

Lembro-me ainda que quando ingressei no “colegial”, hoje Ensino Médio, ganhei do meu pai um curso de datilografia e logo depois parcelaram uma máquina de escrever para mim. Meus primeiros trabalhos no colegial eram datilografados, foi onde veio minha rapidez para digitar e, alguns anos depois, eu estava sentada à frente da minha primeira tela - exatamente 10 anos após minha primeira máquina de escrever. E já foi um avanço e tanto.

Esses primeiros relatos explanam que mesmo num cenário mais linear, a tecnologia sempre esteve presente. Menos de 05 anos depois da minha primeira tela ainda em ambiente MS-DOS, a internet chegou e mudou nossa forma de comunicação. Tornou perto o que era longe geograficamente.

Nesse ambiente altamente conectado, interdependente, onde o que acontece do outro lado do mundo parece que aconteceu na casa do vizinho, vimos nossas vidas serem alteradas há quase 2 anos, por um ser invisível, microscópico e altamente contagioso. Quanta mudança! A mudança foi mais ágil, veloz e realmente nos “atropelou.”

Em menos de 24 meses fiz curso de edição de vídeos, abri um canal no Youtube, fiz conferências on-line e acompanhei gestores escolares por meio de mentorias virtuais, em lugares que eu nunca estive presencialmente. Recentemente, por “pressão” de uma amiga, troquei o Android por um Apple e estou mais conectada do que nunca - apesar de já ter passado dos cinquenta faz algum tempo. Dificuldades? Lógico, mas desafiada a cada momento em permanecer conectada ao mundo, aos relacionamentos, às novidades, vou perguntando, fazendo cursos, assistindo tutoriais e me adequando a um novo mundo.

A pandemia acelerou a transformação digital, o que talvez demorasse dez anos vivenciamos em menos de dois! Não estamos apenas diante de um avanço exponencial em termos tecnológicos, mas também de uma mudança de paradigmas que traz profundos impactos e inquietações. O cenário foi e está sendo alterado numa velocidade avassaladora.

Qual cenário? O mundo da geração digital, das crianças geração Alpha, termo criado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle. Geração? Em geral, essa palavra se refere a um conjunto de pessoas nascidas em determinada época. Por terem crescido em um mesmo contexto cultural, social e econômico, essas pessoas compartilham muitas características em comum. Até o século passado, as gerações eram divididas com base em acontecimentos históricos marcantes e costumavam ser recortadas em períodos de 25 anos. Entretanto, o avanço da tecnologia fez com que as mudanças se tornassem cada vez mais rápidas e, por isso, hoje a duração de cada geração é menor. Nunca na história da humanidade a tecnologia afetou tanto o cotidiano e seus relacionamentos.

Essa Geração Alpha são os filhos da geração Millenials: já pertencem a um mundo tecnológico e conectado desde os primeiros meses de vida, sendo conhecidos como nativos digitais. Eles estão nas nossas salas de aula ou chegando como novos alunos agora em 2022. E, como eles são? Para a Geração Alpha, não existe mais separação entre o digital e a “vida real”. Isso faz com que tenham novas formas de se relacionar, de aprender e de experimentar o mundo à sua volta. Tecnologia para elas é tão comum quanto água. Além disso, são muito envolvidas com as questões ambientais.

Como escolas, nossa pergunta gira em torno de uma grande questão: o que e como vamos ensinar a essa geração, de forma que seja relevante para as próximas décadas? Num mundo cada vez mais digital, não equalizado, não analógico, como tornar perene as relações sociais, a empatia, o diálogo, o senso de pertencimento? Como equilibrar os dois mundos: o digital e o real?

Reuven Feuerstein nos afirma que todos os seres humanos são modificáveis, ou seja, somos capazes de aprender ao longo da vida, de nos adaptar, de estabelecermos novos padrões, atitudes e ideias. Learnability é o termo usado para essa abertura para aprender sempre. Em meio a esse cenário veloz, mutável, para sermos competentes precisamos sim de conhecimento. Conhecimentos nos apontam o que fazer, as habilidades nos dizem como fazer, mas é na competência que conseguimos de fato colocar o conhecimento em ação, mudando atitudes, impactando o mundo.

Nosso papel em 2022 ultrapassa a barreira do 5G e da computação quântica e tantas outras tecnologias que virão: senso de urgência e amor ao que fazemos! Se 2021 foi o ano dos profissionais da saúde, esse será o ano da Educação! Não vamos repassar apenas conteúdos/conhecimento técnico em nossas salas de aula. Mostremos aos estudantes como eles podem mudar o mundo e como nós, adultos de outro século, estamos nos esforçando para mudar também!

Sejamos entusiasmados pelo novo, redescobrindo a cada momento o prazer pelo aprender. Usando e abusando das tecnologias, lembrando que elas são meio e não fim. São ferramenta, mas levando para as salas também o giz branco, a borboleta, os livros, as bolinhas de “gude”, promovendo vida, encontros e reencontros com a felicidade de conhecer, de aprender e de nos relacionar.


 

Iolene Lima

Pedagoga com diversas especializações e MBA em Gestão de Instituições Escolares. Mestranda em Transformação Digital. Conselheira da AECEP, conferencista, escritora, consultora do Instituto Hexis e Diretora do Colégio Shunji Nishimura / SP. www.iolenelima.com.br

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