Os educadores têm, no contexto atual, a difícil tarefa de reinventar possibilidades educativas, que assegurem aos educandos a inserção responsável na sociedade, com todos os direitos e deveres advindos da sua condição de cidadãos (ãs).
Por: Débora Bueno M Oliveira
Educação ambiental, numa perspectiva pedagógica
A escola se encontra inserida em um cenário de desafios, de incertezas, de problemas que a impulsionam a buscar soluções, a ensinar a participação ética e consciente do aluno (a)-cidadão (ã), que seja capaz de compreender o valor e a dignidade do ser humano e, por isso mesmo, desenvolva espírito de colaboração, de protagonismo, de autodisciplina e solidariedade, na construção de um mundo mais justo, solidário e igualitário.
Dessa forma, educação global poderia ser entendida como aquela que tem o compromisso com o entendimento de questões e problemas locais e globais, trazendo, portanto, em seu bojo, a responsabilidade de educar o ser humano para a busca da equidade, gerando senso de missão coletivo e individual, em que a manifestação prática de seus valores e princípios estará a serviço das necessidades da humanidade. No entanto, a escola/educação não poderá cumprir seu papel sem um projeto educativo que defina, entre outras coisas, os valores coletivos assumidos por ela.
Nesse emaranhado de discussões e propostas, surge a ideia de educação ambiental, numa perspectiva educacional, que pelo apelo e características inerentes a ela se faz presente em todos os campos ou áreas do conhecimento, ou mais especificamente, em todas as disciplinas escolares, apresentando um traço multi, inter e transdisciplinar.
“A educação ambiental não deve estar baseada na transmissão de conteúdos específicos, já que não existe um conteúdo único, mas sim vários, dependendo das faixas etárias a que se destinam e dos contextos educativos em que se processam as atividades”. (Marcos Reigota)
Em outubro de 1984, a Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento se reuniu e 900 dias depois publicou seu relatório, (abril de 1987) cujo título é “Notre Avenir a Tous” (Nosso futuro Comum), conhecido como “Relatório Brundtland”. Ele fornece a primeira definição oficial de desenvolvimento sustentável: "Um modo de desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias".
Educação ambiental, numa perspectiva pedagógico-cristã
Diante desse contexto e comprometidos com a Educação, fundamentada em valores e princípios cristãos, estão as escolas confessionais cristãs, cuja missão tem sido: educar o ser humano, criado à imagem de Deus, de forma integral, para o exercício pleno da cidadania.
A educação escolar cristã deve trabalhar com os significados da cosmovisão cristã de mundo e, por isso, defende uma educação que alcance todas as dimensões do educando e que tenha a preocupação intrínseca tanto com “o quê” ensinar, quanto com “o como ensinar”. Pensar o modelo de educação desejado, implica em definir que método será adotado e quais intervenções serão feitas, levando-se em consideração a realidade, expressando com clareza o compromisso de toda comunidade escolar, unindo esforços voltados para a formação de cidadãos comprometidos com seu Criador e atuando de forma consciente na sociedade. Ao definir, em seu PPP, a visão de mundo advinda de seu compromisso, a escola cristã deve se lembrar do comissionamento de “cuidar do mundo criado,” responsavelmente, conforme nos ensinam os dois primeiros capítulos do livro de Gênesis:
“E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. (Gênesis 1:28-30).
E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar”. (Gênesis 2:15)
Esses dois trechos de Gênesis nos ajudam a elucidar a responsabilidade dada ao homem, por Deus, de “gerenciar” o cosmos. Por meio dessa recomendação (que muitos entendem como Mandato Cultural), Deus colocou o ser humano em um relacionamento singular com a criação, para a dominar e sujeitar (Gênesis 1.28); guardar e cultivar (Gênesis 2.17)
Há, ainda, que se lembrar de que a escola cristã não pode ignorar o trato cotidiano de temas atuais, socialmente relevantes, que precisam estar presentes nas reflexões pedagógicas, perpassando o trabalho desenvolvido em todas as disciplinas ou áreas do conhecimento, conforme recomendação da Legislação escolar, via BNCC.
Entre os assuntos relevantes, que não podem ser esquecidos está a Educação Ambiental – cujo objetivo é propiciar a reflexão a respeito de questões fundamentais como: mudanças climáticas, degradação da natureza, redução da biodiversidade e necessidades socioambientais do planeta. Ainda na Base Nacional Comum Curricular, a educação ambiental aparece entre as competências gerais, descrita da seguinte maneira: “Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”.
Entendemos que nesse espaço que se oferece e nesse aspecto tratado pela BNCC, a escola cristã deve ser entendida como o ambiente de aprendizagem que proporcionará, a todos, o acesso ao conhecimento e a possibilidade plena de desenvolvimento das capacidades cognitivas, tendo, para isso, um olhar diferenciado, o olhar cristão atento às necessidades de cada tema. Ela não pode estar alheia à realidade social, cultural e tecnológica; pelo contrário, é preciso saber aproveitar todas as possibilidades e recursos, integrando-os à sua prática pedagógica, explorando o potencial educativo que se apresenta disponível. Por sua vez, os currículos e o planejamento devem ser pensados e estruturados de maneira a atender ao contexto e às necessidades escolares, sendo para tanto flexíveis e dinâmicos. Tudo isso, a partir da “cosmovisão” presente no PPP da escola, compondo o currículo “oculto”, que é desenvolvido no Planejamento Estruturado, praticado em sala de aula.
É possível ainda, entendermos as necessidades contemporâneas, discutirmos os desafios do nosso século e buscarmos soluções conjuntas e interdependentes a partir de propostas e acordos já estabelecidos, como é o caso da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030, e cujo teor está ligado a um apelo global de ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Tanto os objetivos (ODS), quanto as metas (Agenda 2030) estão divididos em cinco áreas, consideradas determinantes para a humanidade e para o planeta:
Pessoas - erradicar a fome e a pobreza para garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial com dignidade e igualdade, em um ambiente saudável. Planeta - proteger da degradação, por meio do consumo, produção e gestão sustentáveis dos recursos naturais para suportar as necessidades das gerações presentes e futuras. Prosperidade - assegurar que todos os seres humanos possam desfrutar de plena realização pessoal, e que o progresso econômico, social e tecnológico ocorra em harmonia com a natureza. Paz - promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas, livres do medo e da violência. Parceria - mobilizar os meios necessários para implementar esta Agenda por meio de uma Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável por meio do espírito de solidariedade global. |
Não podemos deixar de fazer referência ao Fórum Econômico Mundial (FEM), organização internacional localizada em Genebra (Suíça), responsável pela organização de encontros anuais com a participação e colaboração da elite financeira mundial, para estudar e analisar quais os riscos globais futuros. O foco têm sido as mudanças climáticas, a indústria 4.0 e a imigração, para a busca de soluções comuns entre os países participantes.
Como, na prática, então, abordar questões referentes ao cuidado com a natureza, sendo fieis aos princípios bíblicos e alinhados às questões pedagógicas legalmente referendadas?
Penso que Projetos Multi, Inter e Transdiciplinares constituem-se em excelentes recursos didáticos. Projetos que tragam, à reflexão e à prática de boas ações, questões como: Consumo Consciente, Preservação Ambiental, Aproveitamento de Alimentos, Respeito e Amor ao Próximo, manifesto em Ajuda Humanitária , por exemplo.
No entanto, como escolas cristãs, precisamos estar atentos às motivações e fundamentos que nos levam a “cuidar” do Planeta. Não devemos nos preocupar com modismos, ou nos mobilizarmos a partir de estímulos político-partidários. Mas atentarmos para o que nos ensina a Bíblia, pode ser uma decisão interessante e afirmativa de nossa condição de escolas confessionais e de seres humanos criados à imagem e semelhança do Criador, para honrá-lo com nossas ações, tendo atitudes que contribuam para a melhoria do meio ambiente e demonstrem responsabilidade de gerir, utilizar e desenvolver os recursos da criação.
Profª Débora B M Oliveira
Graduada em Letras e Pedagogia, Pós-graduada em Literatura e Gestão da Educação. Aluna do programa de mestrado “Educação, Arte e História da Cultura”, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Exerceu funções de Professora, Coordenadora e Diretora Escolar.
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